Foto: Divulgação
Após faturar mais de 1 bilhão de ienes em bilheteria no Japão, o filme Look Back projetou o diretor Oshiyama Kiyotaka para fora do nicho de animes e o tornou um ponto de interesse para amantes de animação mundo afora. Chamou atenção a tal ponto de entrar no catálogo da Prime Video e ainda ser dublado em diversos idiomas para o streaming. Apesar do alcance, mais de um ano desde seu lançamento, e muitos talvez desconheçam essa pérola escondida no catálogo e sua qualidade.
Adaptado do mangá de mesmo nome, escrito por Fujimoto Tatsuki, a trama do média-metragem acompanha a protagonista Fujino Ayumu, uma aluna da quarta série muito popular pelas tirinhas que publica no jornal da escola. Porém, a situação muda quando uma aluna reclusa que nunca ia à escola, Kyomoto, passa também a compartilhar seus incríveis desenhos no impresso e chama atenção de todos, inclusive de Fujino. Assim, surge uma rivalidade velada que posteriormente se tornará uma grande amizade entre as duas desenhistas que sonham em criar um mangá de sucesso.
O filme é uma produção do Estúdio Durian, fundado em 2017 por Oshiyama Kiyotaka e Nagano Yuki, que até então trabalharam apenas com pequenos projetos e prestando assistência para trabalhos em outros estúdios, como em The Boy and the Heron, FLCL: Shoegaze, The First Slam Dunk, Chainsaw Man e outros. O Durian tem a proposta de realizar produções que fujam da lógica atual da indústria de animes e ser um espaço agradável para artistas experimentarem novas linguagens. Apesar de recente, o estúdio ganhou credibilidade com suas assistências e agora se finca como um agente relevante. O sucesso, porém, não parece uma tacada de sorte, mas fruto de um esforço fundamental para tornar Look Back uma potência emotiva.

Encarregado da direção, design de personagens e artista por trás da metade das sequências de animação de Look Back, Oshiyama sem dúvidas é responsável em grande parte pelo resultado final da produção. A aparência menos processada e contornos mais soltos nos desenhos é um exemplo, estética já presente em um curta feito pelo diretor chamado Shishigari (2019). Em Look Back, esse visual ajuda principalmente a passar a sensação de que as emoções transmitidas pelas personagens são cruas, sem nenhum tipo de filtro que as impeçam de expressar o que sentem, ao mesmo tempo que dá um aspecto frágil. Quase como se os contornos fossem se desfazer e deixar vazar suas cores por toda parte.
O filme apresenta não só a infância das garotas com um grande sonho em vista, mas também a trilha percorrida com todas as suas alegrias, dores e arrependimentos. As imagens produzidas parecem guardar sentimentos muito genuínos, que ressoam justamente pela simplicidade das formas animadas. Ver as duas crianças apenas sorrindo, correndo ou se mexendo abobalhadamente transmite uma felicidade e gera um fascínio. O que gera um contraste muito forte com os momentos de conflito mais a frente.

Com menos de uma hora, o filme aposta muito mais em gerar engajamento com o público através dos visuais, montagens e momentos chaves de atuação do que em longas sequências de diálogos. O diretor chegou a incluir diversos momentos em que as personagens apenas ficam sentadas desenhando em silêncio, como uma forma de ressaltar o esforço em fazer arte e fortalecer a relação de Kiyomoto e Fujino.
Com uma boa narrativa visual, estilo único e uma história com momentos inesperados, o filme consegue levar o público à extremos com suas palhaçadas e dramas interpessoais. Tudo conduzido com uma leveza quase infantil pela direção que é, de certa forma, afável mesmo nas cenas mais sombrias. Uma ótima recomendação para quem gosta de chorar assistindo uma série ou filme.



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