Por Vinicius Gonçalves | Foto: Vinicius Gonçalves
No último domingo, 28 de setembro, Marapanim, a capital mundial do carimbó, foi palco do Primeiro Festival Boiúnas do Carimbó. Contando com quase 30 apresentações de grupos de diferentes municípios, o festival teve início no dia 27 de setembro, com uma palestra, seguida do cinema debate e exibição dos filmes “Manas” e “Boiúna”, além de uma palestra promovida pelo grupo, que ocorreu no dia 30 de setembro, também em Marapanim. O festival, que celebrou o Patrimônio Cultural Imaterial, ocorreu em uma data muito simbólica para a população local, no dia em que Mestre Lucindo, marapaniense que marcou o carimbó, completou 37 anos de falecimento. O parauaras foi até o local, acompanhar o festival de pertinho.
Com cerca de quase 30 mil habitantes, Marapanim fica à pouco mais de 150 quilômetros de Belém. Abrigando belas praias, como a Praia do Lembe, Crispim e Marudá, a Terra do Carimbó é dividida entre vilarejos da água doce e da água salgada, com rios que ficam a poucos quilômetros do mar. O trajeto, marcado por paisagens verdes e campos, já dava um gosto das belezas naturais que Marapanim nos reserva.
Fundado pelas tocadoras de carimbó, Amanda Rabelo e Aline Ribeiro, em 2020, o grupo “As Boiúnas”, formado somente por mulheres, surgiu com o objetivo de quebrar os paradigmas que cercam a participação das mulheres no carimbó, mudando a narrativa de que o ritmo somente é tocado por homens. Sendo o segundo grupo da região formado apenas por mulheres, As Boiúnas fazem parte dos mais de 40 grupos de carimbó pertencentes ao território de Marapanim, atrás apenas do grupo “Sereia do Mar”, fundado em 1994, da comunidade de Vila Silva.

O festival, então, nasceu também dessa inquietação e desse paradigma que ronda o carimbó, com o intuito de renovar essa “cara” do carimbó. Elas formaram o grupo e estão há cinco anos revolucionando o carimbó, não só tocando, mas também fazendo oficinas por vários outros municípios do Pará. “A mulher já não só dança o carimbó, que normalmente era esse papel que a mulher fazia, ou estava produzindo mas não aparecia. A gente tá nesse festival fazendo todas as funções possíveis, da organização, da venda, de convidar os grupos de outros municípios que vão ter”, comenta Amanda Rabelo.
“A importância desse festival, para nós, a gente fala da palavra ‘salvaguarda’, que é para que a gente continue fazendo isso por muito tempo. Ele [o festival] vai ser demarcado, nunca teve um grupo de mulheres de Marapanim, na cidade, que fez um festival como esse, dessa magnitude. A gente convidou grupos de outros municípios, e eu acho que o festival demarca, pra gente, como um grupo de mulheres, um avanço de tudo que a gente têm feito em 5 anos, que é a salvaguarda, a transmissão de saberes”, finaliza Amanda.

No total, 25 grupos de carimbó se apresentaram no Bom Intento Clube “Arena Zimba”, em Marapanim. Além das apresentações, a programação também contou com vendas de comidas típicas, artesanatos e bebidas locais, e ainda contou com o sorteio de valores em dinheiro por meio de bingo. A programação do festival também levou para debate as atrizes Jamilli Corrêa, Samira Eloá e Emily, que protagonizaram o filme “Manas”, dirigido por Marianna Brennand.
“A gente espera, a partir disso, que outras meninas, outras mulheres, outras crianças, possam ver a gente no palco e queiram fazer, dar continuidade ao carimbó que a gente ama tanto, acho que essa é a principal missão, também, do nosso grupo e desse festival”, declara Amanda.


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