Inspirada no movimento Slow Food, a iniciativa criada por Juliana Araújo mistura ingredientes amazônicos com culinárias tropicais e valoriza produtores locais que cultivam alimentos de forma agroecológica.
Por Evelyn Ludovina | Foto: Raul Martins
Ao longo da vida, crescemos escutando que, na hora de comer, “quanto mais colorido o prato, melhor”. Um prato repleto de cores é sinônimo de variedade e nutrientes. Mas, com a correria do trabalho e o pouco tempo dedicado às refeições, esse ideal tem se tornado cada vez mais distante. No lugar dos alimentos naturais, ganham espaço os ultraprocessados, enlatados e fast foods, comidas rápidas que, pouco a pouco, apagam as cores da mesa.
É nesse cenário que iniciativas como a URU, comandada por Juliana Araújo, resgatam o valor do alimento vivo e da biodiversidade amazônica. Formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, Juliana trocou as redações pela cozinha depois de cursar o mestrado na Universidade do Slow Food, na Itália, onde foi bolsista. Durante o período em que estudou fora, ela se aprofundou na compreensão das relações entre quem produz e quem cozinha e foi aí que percebeu que não podia mais fugir do seu grande amor pela culinária.

Hoje, unindo a filosofia do Slow Food, que defende um sistema alimentar que produz alimentos “bons, limpos e justos” para todos, à criatividade da ecogastronomia, ela transforma ingredientes cultivados de forma agroecológica em experiências que valorizam a Amazônia.
“Comer de forma tão biodiversa quanto a natureza” é uma das frases que define o seu trabalho. A Uru trabalha com alimentação vegetal, todos com ingredientes cultivados sem agrotóxicos, mas não é exclusivamente vegana. “A escolha por pratos vegetais muitas vezes se dá pelo maior custo de derivados animais agroecológicos, como o ovo caipira que é mais caro”, afirma a cozinheira.
No cardápio, a Amazônia dialoga com culinárias tropicais de outros cantos do mundo como a tailandesa, a mexicana e a indiana. Os sabores provocam o paladar e a curiosidade dos clientes, especialmente pelas cores e texturas que fogem do padrão. “As pessoas se surpreendem, porque a cor do açúcar é diferente, o sabor também. É um choque sensorial”, conta Juliana.
Além disso, cada prato carrega uma rede de relações entre agricultores, cozinheiros e consumidores, que se entrelaçam em torno da ideia de comer de maneira consciente e sustentável. “O próprio nome ‘URU’ homenageia as abelhas uruçu, que são essenciais para a polinização e a manutenção da vida”, explica.
Quem cultiva os sabores da URU?
Mas afinal, o que é comida agroflorestal? De onde vêm os ingredientes que dão vida aos pratos da URU? Para entender isso, é preciso olhar para onde tudo começa: o solo, o cultivo e a biodiversidade.
No município de Marituba, o agricultor Noel Gonzaga, do Sítio Velho Roque, é responsável por parte dos alimentos que chegam à cozinha da URU. Integrante do GRUCA (Grupo de Consumo Agroecológico), ele cultiva uma diversidade de frutas, hortaliças e tubérculos, respeitando os ciclos naturais da floresta e utilizando técnicas agroecológicas. Entre os produtos que cultivados estão: jerimum, quiabo, feijão verde, limão, açaí, muruci, cupuaçu, cacau, café, biribá, macaxeira, hortaliças diversas e o ariá, um tubérculo amazônico quase esquecido nas mesas urbanas.
“A cozinha é o espaço onde a agroecologia vira vida prática. Quando alguém prova um prato feito com alimento limpo, começa a entender que dá pra comer bem sem destruir o ambiente”, explica o agricultor.

Entre os cultivos do sítio, ele destaca o ariá, ingrediente tradicional da Amazônia que vem sendo perdido pelo baixo consumo, e o papel da gastronomia em resgatar esse alimento. “É parente da batata e algumas pessoas falam que lembra o milho, então é mais crocante. O ariá só vai começar a ganhar espaço quando cozinheiros como a Juliana usarem nas receitas. Algumas pessoas são muito tradicionais na hora de comer e tem dificuldade de experimentar algo novo”, observa.
Para quem quiser conhecer os pratos e experiências da URU, a marca está presente em eventos, jantares exclusivos e redes sociais, enquanto os produtos agroecológicos do GRUCA podem ser adquiridos em feiras locais ou por encomenda pelo site.


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