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Documentário premiado do Parauaras sobre espiritualidade ancestral é exibido durante a COP 30, em Belém

5–8 minutos

Com o propósito de valorizar e exaltar as produções audiovisuais da Região Amazônica, foi exibido nesta segunda-feira (10), o documentário “Entre Rituais e Benzimentos: a espiritualidade viva nos conhecimentos ancestrais”, no Complexo dos Mercedários, em Belém. O curta-metragem foi escolhido pelo projeto Casa BNDES, que além de cinema, também estava promovendo atividades e exposições interativas durante o período que marca a conferência climática na capital paraense.

A produção foi desenvolvida pelos repórteres César Vieira, Eliza Nascimento, Francy Ramos, Giovana Rodrigues e Victoria Rodrigues, sob a supervisão da Profª Dra. Jússia Carvalho Ventura para a disciplina de Laboratório de Produção e Linguagem Jornalística IV da Faculdade de Comunicação da UFPA. Em agosto de 2025, o curta-metragem foi veiculado por meio das mídias sociais do Parauaras.

A ancestralidade e a espiritualidade caminham juntas na Amazônia

O documentário exibido durante a COP 30 buscou registrar os conhecimentos de benzedeiros(as) que utilizam da sabedoria ancestral para curar outras pessoas por meio da fé, orações e de ervas específicas que podem ser cultivadas no próprio quintal. Este produto partiu da necessidade de conhecer mais sobre esses atos que mexem com o espiritual e fazem uma ponte essencial entre o humano e o divino.

Logo, para mergulhar nesses saberes, foram entrevistados quatro benzedeiros(as): Dona Ana, Pai Roberto, Paulo Arara e Mãe Zulmira, que estão espalhados pelo território paraense. Além disso, a produção teve ainda a participação de Beth Cheirosinha, como é conhecida no Ver-o-peso, que contou sobre as propriedades dos banhos de cheiro, e com o especialista em conhecimentos ancestrais e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Professor Agenor Pacheco.

Para a diretora do documentário, Profª Jússia Carvalho Ventura, a produção buscou retratar o cenário da Amazônia. “O documentário traz uma estética que é a nossa estética: a estética amazônica. Olhando como professora, como orientadora, nossa responsabilidade foi sempre a de permitir que outras pessoas contassem as suas histórias e a gente respeitasse elas, por meio de uma estética e de um olhar que é o olhar da Amazônia para essas práticas que são nossas”, explicou Jússia Ventura.

“O processo de criar o roteiro do documentário partiu da necessidade de evidenciar as vivências e as práticas dos benzedores, curandeiros e pais de santo. Queríamos transpassar o cuidado que essas pessoas têm para com outras e fortalecer ainda mais essa cultura da cura através do benzimento, e mostrar que, independente de religião e escolaridade, essas práticas levam ao equilíbrio espiritual e também a perpetuação do conhecimento ancestral”, revelou a roteirista Giovana Rodrigues.

Amante da espiritualidade afro-brasileira, César Vieira, produtor e repórter do documentário que também esteve presente no evento, realçou que o curta-metragem foi para além de seu lado profissional. “Tratar sobre os conhecimentos ancestrais na Amazônia é algo que me cerca, seja como adepto às religiões afro ou como pesquisador no campo afro-religioso. Nossos entrevistados foram peças fundamentais na construção de conhecimentos e saberes ancestrais, e estão, de alguma forma, presentes aqui na região amazônica”, pontuou Vieira.

Sustentabilidade e práticas naturais durante a conferência climática global

Na exibição do documentário na COP 30, estiveram presentes o Pai Beto e o professor da UFPA, Agenor Pacheco, que puderam contar como foi a experiência de participar como entrevistados de uma produção audiovisual que realçou questões relacionadas aos conhecimentos ancestrais na Amazônia. Ambos destacaram que esse momento foi muito importante para realçar as particularidades dos saberes do senso comum e, principalmente, para quebrar as amarras do preconceito religioso.

“No momento em que a gente está discutindo sobre o clima, novas práticas e soluções de sustentabilidade com a COP 30, é importante a gente olhar para essas práticas ancestrais, de produção, inclusive de ervas naturais que compõem o quintal dessas pessoas, isso é mais do que urgente. A gente precisa olhar para essas práticas que muitas vezes são consideradas menores pela Ciência, como um senso comum, e começar a olhar para o passado a fim de podermos construir um presente mais digno e um futuro com mais tempo”, realçou a diretora do documentário.

Além de apresentar práticas sustentáveis que envolvem a cura espiritual, o documentário também se tornou um produto para se fazer pensar diversos aspectos no evento global. “Eu fico extremamente feliz com a exibição do documentário durante a COP 30 que está acontecendo aqui em Belém, momento como esse que é crucial para pensarmos numa sociedade civil organizada e que inclui saberes, conhecimentos e diversas formas de cultuar o sagrado. É significante mostrar algo que nos permeia, algo que fez e faz parte da nossa vida”, destacou César Vieira.

Para a repórter e produtora do documentário, Francy Ramos, é essencial que produções locais como essa alcancem esse espaço. “O projeto da Casa BNDES põe em evidência os trabalhos que estão sendo realizados na Amazônia, mostrando não apenas a potência do audiovisual feito aqui, mas também das histórias que são mostradas por meio dessas produções, evidenciando uma Amazônia que é plural, pulsante e que se reinventa a cada história que é contada. Revela também a presença dos sujeitos amazônicos contando suas próprias histórias”, relatou Francy.

Premiação nacional da Rede Folkcom em 2025

Como forma de reconhecimento pelo trabalho do Parauaras, o documentário “Entre Rituais e Benzimentos: a espiritualidade viva nos conhecimentos ancestrais” venceu o primeiro lugar do Prêmio de Audiovisual Verônica Dantas Menezes da 22ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação, promovido pela Rede Folkcom. A cerimônia de premiação ocorreu no dia 31 de outubro, na Universidade Federal Fluminense (UFF), que fica localizada na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.

“A maioria das pessoas já tomou um banho de cheiro, já teve alguma prática de benzimento ou já fez alguma cura no próprio corpo, sendo a sua mãe, a sua avó, ou até vizinhos. Então, eu acho que isso faz parte do nosso dia a dia, faz parte do nosso contexto e contar essa história para o mundo também é importante. A gente ter levado esse documentário para o Rio de Janeiro, ter mostrado isso e ter sido premiado, mostra a importância da visibilidade de histórias como essa e de pessoas amazônidas”, ressaltou a diretora e orientadora do documentário, Jússia Ventura.

Segundo Eliza Nascimento, repórter e produtora do curta-metragem, esse momento é de muita felicidade como estudante de comunicação e cidadã amazônida. “É o reconhecimento de um trabalho que foi feito com muita sensibilidade e saber que ele foi premiado nacionalmente é muito gratificante. Saber que o nosso trabalho conseguiu chegar no outro lado do país e as pessoas puderam conhecer um pouco sobre conhecimentos ancestrais, benzimentos, espiritualidade, que são saberes muito ricos aqui da Amazônia, sem dúvidas, é uma honra pra gente, primeiramente como estudantes, e segundo como amazônidas”, realçou Eliza Nascimento.

Para o presidente da Rede Folkcom, Andriolli Costa, esta edição do encontro nacional será marcada para a história. “Gostaria de agradecer a todos que participaram da 22ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação. Esta, certamente, se tornou uma edição histórica do evento. Como falou Renato Nogueira em nossa palestra final, que nosso encontro tenha sido capaz de cultivar sonhos neste reflorestamento do imaginário de futuro que queremos construir”, destacou Andriolli.

“Eu acredito que tanto a premiação na Folkcom quanto a seleção do documentário para ser exibido na COP 30 abrem espaço para um olhar amazônico mais apurado, principalmente de pessoas que não conhecem as nossas particularidades regionais. É muito lindo ver que, além do reconhecimento de nosso trabalho que foi fruto de muita coletividade, nossa produção também alcançou outras perspectivas sobre um tema sensível que deveria ser cada vez mais visto como um objeto de pesquisa no país”, finalizou Victoria Rodrigues, repórter, produtora e editora do documentário.

Assista o documentário aqui!

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